todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem
dizem os versos do trovador buarque...
mas a bailarina tropeça, acorda com o dedo roxo, um derrame que não se sabe de onde nasceu. a bailarina aposentou sapatilhas algumas vezes, depois de vez, depois voltou a ter a cabeça dançando, depois a bailarina começou a envelhecer. diziam que a bailarina não envelhecia nunca, com cara de menina levada, trelosa, sorridente. a bailarina dos cabelos assanhados, dos joelhos ralados, do tênis surrado; a bailarina com cara de moleque. a bailarina começou a envelhecer.
ela ainda acredita em pirilampos e colibris, ainda sonha ipês amarelos floridos, ainda sonha uma plantação de girassóis. ela ainda ama com fidelidade e acredita em envelhecer juntinho. a bailarina ainda não tem cabelos brancos, mas ela começou já a envelhecer. a bailarina não tem filhos, mas tem muitos de quem cuidar, espalhados e agregados ao espaço em volta dela. a bailarina não é encanadora, não é eletricista, não é médica nem veterinária; a bailarina não é mecânica nem sabe 8 línguas. a bailarina frequentou escola clássica, mas não é bem exatamente erudita. a bailarina não é palhaça, mas vive rindo e fazendo rir. a bailarina é criada por duas gatas e uma doninha.
a bailarina começou a envelhecer e continua sendo uma menina.
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4 comentários:
Ciranda de Bailarina
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
Beijo.
No ano dois mil e um
Se juntar algum
Eu peço uma licença
E a dançarina, enfim
Já me jurou
Que faz o show
Pra mim...
*a bailarina vive na íris de cada felino...*
pois é, querida, procurando - e nem precisa ser tão bem - todo mundo tem, mas a bailarina quis reivindicar seu direito de ter, né? ;-)
beijo também.
Amarelinha,
isso mesmo, todo ele - o trovador do nosso barroco pessoal e atemporal, de nós sempre diz. salve o samba e amor até mais tarde, a menina dança... nos felinos moveres...
"De um lado o olho desaforo
Que diz meu nariz arrebitado
E não levo para casa, mas se você vem perto eu vou lá
Eu vou lá!
No canto do cisco
No canto do olho
A menina dança
E dentro da menina
A menina dança
E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há!
Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos"
sempre beijos.
aiiiiiiiii, um ipê amarelo.
já me sinto...
rsrsrsrsrs
=)
cheirinhos!
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