sexta-feira, setembro 11, 2009

sobre ontem

um dia dedicado a lembrar um amor perene, mas com crises de intermitência. o desconhecimento esporádico e reincidente, às vezes, nos faz animais ressabiados. mas a lição natural das raízes nos refaz dos sentidos primevos, de carne e sangue: laços de origem. não havia como não pensar nele. nos aprendizados afetivos, nas quedas, nas perdas, nas construções... na tão gemelar similitude, que desde sempre nos fazia confusos os gêneros, até para os examinadores externos.
ele, o menino. eu, a menina mais velha. tão pouco mais velha, quase nada. divididos os peitos, os medos, os brinquedos, as dores de crescimento.
livros lidos em paralelo; escritos partilhados. noites escondidas, roubadas às interdições paternais, em que o relógio nem importava. o abraço que me religava ao melhor de mim, sempre. o motivo das minhas brigas, o motivo de eu saltar sobre qualquer um: defender o menin0.
quis o menino-homem, sempre lindo e sem perder o menino. sem perder o ingênuo sorriso, o lúdico, o afeto. era o mais doce menino que conheci. o sorriso me fazia querer ser mãe dele, e fui. atropelei a ordem natural e fui mãe do menino.

as estradas se bifurcam e as decisões se vão acumulando a cada encruzilhada. numa malha cartográfica de vida, a gente já se perdeu tanto. esquecemos de artifícios da infância: mãos dadas sempre, um novelo de corda, os assobios, até os tecnológicos rádios comunicadores...
os acasos por vezes nos religam, porque da ordem atávica dos perenes. e me alimento do verde inseto da crença, a cada sopro de sorriso do menino, quando sinto que ele ainda é meu filho. quando sinto que ele ainda ama a sua mãe, ainda consegue vê-la sem máscaras e sem receios. quando o menino ama sua mãe sem ressalvas de ordem normocrática.
eu desejo ao menino, no dia em que todo ano ele renasce: olhos sempre puros, pra enxergar de verdade. a ele mesmo, a mim (sua mãe) e a nós: esse laço que é nó, e nada devia ameaçar.
eu desejo ao menino a sabedoria de que amor não se mede; não classifica, não julga: até diz não, pra se preservar e crescer. mas é incondicional.

8 comentários:

amandagabriel disse...

=) feliz aniversário da metade

lagarta disse...

ô, minha amandita... captadíssima eu, por ti, sempre. o irmãozinho brindou de longe, pela tela do computador. chega domingo e sopra as velas atrasadinhas...
saudade de tu.

Kenia Mello disse...

Não tive eu a sorte de um amor assim, irmanado em carne e sangue. Mas outros tive, irmãos de alma e olhos atentos que, onde estejam, zelam por mim e eu, por eles.
Beijo pra você e felicidade ao irmão.

lagarta disse...

beijos, flor. e aos irmaõs de alma, que nos velem e zelem...

Leco Silva disse...

Muito lindo. Eu realmente gosto da cadência do seu texto.

lagarta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ei meu anverso... assim tú me deixas perdido... de amor... e de saudade... lembrando dos tempos em que nada, realmente nada, importava mais do que a cumplicidade da inocência... os conchavos e a união de forças para derrotar o "bicho papão"... Ô tempo bom... ô mundo perfeitinho... aquele que habita em minhas recordações de criança... (lembranças maternais? Tá bom.. vá lá que é isso mesmo...). Te amo e obrigado por esse minuto e meio de contemplação.

lagarta disse...

eu nem preciso dizer mais nada: ele disseaqui em cima. o meu menino.