quarta-feira, fevereiro 10, 2010

último ato



só pensava em como podia feri-la, da mais contundente forma, daquela cuja marca seria indelével - palavra de cepa mais erudita pra traduzir simplesmente: algo que não se pode apagar.
todo mundo tem um ponto fraco, até a mitologia ensina o calcanhar de aquiles, não é?
havia de conseguir encontrar a precisa forma de atingi-la com toda eficácia. era preciso, era necessário, era até vital que conseguisse deixá-la inválida, mesmo que apenas internamente, mesmo que o exterior fosse recuperável. aliás, era isso mesmo que desejava: que os vestígios externos da mácula tivessem média duração e se fossem, mas deixassem seu rastro de traumatismo sem cura lá dentro, onde ninguém poderia ver, fazendo dela uma deficiente e inválida não presumida, e que nem conseguiria explicar a terceiros a sua condição.

arrancou-lhe olhos e cordas vocais: foram postas próteses do mais puro azul, ainda mais belas que as órbitas originais, e a última imagem que restou na memória dela era a da dor e do próprio sangue escorrendo pelos buracos dos antigos órgãos da visão...

2 comentários:

Kenia Mello disse...

Tá certo, tá certo, só volto a enviar depois do Carnaval. Medo, muito medo. :)))
Beijos.

lagarta disse...

eu tb, medo, muito medo. vida própria aos descendentes de buñuel. e a minha imaginação. tsc tsc.
beijos.