domingo, novembro 08, 2009

laranja difuso


o céu laranja
na minha preferida hora
doura o quadro
da minha boca na tua

beijo

e amo duas mulheres
que habitam em mim

mas como conciliá-las
para que vivam em harmonia assim?

espelho da lua
na tela vazia
de uma rua que se bifurca em vias

traço o retrato
de o quanto em mim
descaibo

e amo duas mulheres
que habitam em mim

como dividir-me em corpos
e espaços
quando meus líquidos se espalham
e amo cada detalhe de cada uma delas em mim?

sou vasta e nenhum amor me basta?
sou múltipla e a unidade me castra?
sou louca e me bifurco em alas?
rompo-me as asas e voo na teimosia
de amar duas mulheres em mim
como cativas habitantes da minha polifonia

no céu se esvai a cor
que me fez surgir o devaneio
do beijo sem freio
da minha boca na tua
duas mulheres que são uma

o amor é quase sempre
uma viagem afora
para cair-se em si

e do mapa sem bússolas
miro-me no espelho
para perder-me de mim

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