sexta-feira, abril 16, 2010

sons que me movem




o primeiro e mais forte deles é o barulhinho do mar, quando a gente senta numa sombra de fim de sol, mãos na areia fria e consegue apenas concentrar-se no próprio diafragma. nessa exata hora, o mar chama, com seus amavios de encantos e abraços líquidos.

e fui aprendendo de tantos outros sons, o bem-te-vi e suas amigas jandaias, que todo dia, às 5h e às 17h faziam sinfonias na janela de onde eu antes vivia, na rua sem saída.


antes ainda disso, que memória não segue cronologia aritmética, me danava escadas abaixo, correndo, quando o amigo vendedor de algodão doce (daquele das carrocinhas que fazem na hora e acumulam um delicioso açúcar queimado nas bordas) soltava seu apito. tanto do tal açúcar me era dado de presente, logo a mim, que mal comprava o algodão doce...

e a música de Scot Joplin, Ragtime, que fazia uivar meu companheiro Kalino.

o assovio lá longe, jeito outro de meu nome, só meu: que assim me chamava o avô.

e música, sempre. o pai e o aprendizado dos eruditos: meu pai me deu Bach de presente, meu olho ainda se verte quando nisso ponho o pensar, e o ouvido do juízo, imediatamente, me traz de volta o som.

fui trocando com o pai esse gostar. ensinei a ele: jazz, blues. dei de presente a ele john coltrane, ella fitzgerald...

"olha pro céu, meu amor, vê como ele tá 'rindo'..." era assim que eu cantava, com o avô. uma bagunça esse relato de remembranças aqui. tão longe vai meu juízo nessa perquirição e lembro as sonatas pra cello, do mesmo Bach, Pablo Casals. Depois, tantos tantos. E a pergunta: "ô, pai, como é o peixe pau??" ele, atônito e rindo, quer saber de onde tirei isso...
da música que Elis Regina canta: "Cai o peixe ouro, cai o peixe espada, cai o peixe pau!!" (Na verdade é 'rei' em lugar de peixe, e a música é Cartomante, de ivan lins).

e continuo caminhando, com tantos sons e vozes e cheiros que me soam. e aprendendo mais e mais a ouvir o silêncio, que nos educa pras memórias auditivas e sinestésicas.

Nenhum comentário: