segunda-feira, março 29, 2010

de lagarta a borboleta e o reverso ciclo ad infinitum




quando me dei conta (expressão que tanto usamos e nem mais parecemos perceber em sua força), vi tão mais límpidas as escolhas que vinha fazendo. parecia, então, que transitava pelo redemoinho de uma imensa provação, a maior talvez até então, em certo plano da vida.

mas novamente as pontas dos fios iam se atando e, tão-somente, pondo mais convictas as constatações: joio e trigo; boas sementes e terra fecunda; água e óleo... os imiscíveis e as convicções de manter-se partícula e onda, variável, mas sem transigir na essência: o que ao universo irradia-se é o que dele nos volta!

e os novos passos, ainda em espera no exercício paciente mas em paz, ganham contornos mais nítidos de o quão acertado é o cultivo do caráter e da honestidade, sem falseamentos discursivos e falácias.

só sabe como nascem os girassóis quem ousa plantá-los e cuidá-los durante todo o longo e exigente percurso até a florada. só sabe o vero canto dos pássaros quem ousa recebê-los no lar sem grades, sem gaiolas, e deles receber o canto livre.

só sabe do amor quem faz laços com felinos, plantas, flores, águas e outras formas de vida.

(para nina e zuzi)

imagem de: http://www.zazzle.com.br/gatos_com_girassois_ima-147653309404030431

quinta-feira, março 18, 2010

historinha de encanto





voltava a menina de bicicleta, para sua casinha no interior, que fica encrustado em pleno refúgio de meio de cidade grande, quando tem um encontro com uma trupe da sua mesma espécie. e olhe que fazia dias que a menina pensava: "dEUS, a liga do mal está vencendo!".
mas eis que a noite lhe prometia um alento...
a menina avista a senhorinha, de humilde cepa, como convinha à natureza na qual se assentava. estava, então, a senhorinha a alimentar seus familiares felinos, toda uma trupe que habita o baldio terreno nas cercanias de onde vivem, as duas: senhorinha e menina. e o diálogo se deu mais ou menos assim:
- boa noite! que linda trupe!
- ô, minha filha, eu cuido deles.
- toda noite a senhora põe comida pra eles?
- é, minha filha. são quinze ao todo, mas eu tenho percebido que, de uns dias pra cá, dois sumiram. um preto e uma rabiscadinha bem grande...
- que coisa mais linda! muito bom lhe ver!
- dEUS lhe pague, minha filha!

e a menina volta pra casa mais leve, no seu finzinho de percurso. em casa, encontra sua famíla, que se centra em duas felinas, também, uma preta e outra rabiscadinha. mais uma feliz coincidência da liga do bem.

sexta-feira, março 12, 2010

extremidades




as maõs, uma primeira devoção. a forma suave de chegar ao machucado sem assustar ainda mais o pequeno pássaro acuado embaixo da mesa, trêmulo como se ardendo em febre; desassistido e ainda incapaz de absoluta independência, na hostil natureza para um órfão tão infante.

assim, o bálsamo. assim, o diminuto aprendizado da exceção. assim, a doçura da reza, da bênção, do afago.

assim, o laço.

imagem: atuleirus.weblog.com.pt/arquivo/maos.jpg

quinta-feira, março 11, 2010

sobre o sim e o não: as escolhas.





passo a passo, vai-se construindo o inventário, até mesmo à revelia dos desejos. a vidência clara e límpida se constrói como asseio de ânima, e graças aos dEUSES, não requer normas de fundamentação teórica nem submissão ao crivo de supostas autoridades. por isso a arte não cabe, em verdade, no espaço autolegitimante das reinvindicações institucionais.
pelo viés do menor, controem-se benjamins, rosas, mestres zezinhos e nóbregas, que são cortejados mas não cedem seu passo, afinal, o pedido de presença se faz tão depois de já terem sido negados.

Imagem: comic do meu caro amigo Copi, outro ilustre irônico, a fazer parte da lista.

terça-feira, março 09, 2010

momento sarcasmo




por que nomeamos de amor esse tal sentimento que nos prende a alguém? e por que assim nos deixamos atar? as vezes penso que é mais uma espécie de atadura calcada em recalques (trocadilho infame, mas procedente) e que melhor seria curar-se no divã do analista. por mais despesa que se tenha com a sessão de psicanálise, acaba-se tudo ao pagar a conta. pior é no casamento, que acumulam-se contas de toda ordem, e ainda se encontra constante fonte de alimentação para que o tratamento analítico dure infinitamente.
como uma ladainha...
e constrói-se o clã familiar sobre esta mesma ladainha, reproduzindo-se como peste o mesmo discurso, as mesmas impressões que se cristalizaram sobre alguém. se lhe coube o rótulo de filho dileto, responsável ou ordeiro, admirável etc, aproveite-o: é como um tíquete premiado de loteria.
mas se você tiver sido "diagnosticado" como "desviado", por mais que se converta no bombeiro de plantão para todo e qualquer tipo de incêndio familiar, para qualquer um dos membros, a sentença é ser sempre criticado. mesmo que as pessoas continuem recorrendo a você, nada é mérito, apenas a mera obrigação. e não demore a cumpri-la!
viva os animais, ditos irracionais, que fazem sexo, procriam (quase nunca em uma superpopulação tão danosa ao meio quanto os humanos) e nunca tiveram entre eles relatos da dita "civilização"...

Imagem de:http://www.graphitelight.hu/

domingo, março 07, 2010

e o oscar vai para...



como eu gosto da ideia do bom senso imperando. ai, que alegria quentinha me dá, se imagino uma pessoa discreta servindo de modelo e referência.
o bom humor, daqueles legítimos, sem apelos e concessões ao império do mau gosto. o sarcasmo como elegância primária, quase um modelo de calça de algodão do mais puro (extraído de um saco de algodão de açúcar reciclado), bordado pela avó, na tarde de cuidados no terraço, enquanto olha os netos a brincarem na areia, e não a suposta peça quase exclusiva (igualzinha) da coleção outono-inverno (duas estações que nem existem à vera em nosso calendário) bordada pela exploração de um trabalho vergonhosamente remunerado e vendida a peso de ouro, na promoção de ocasião, de R$480,00 pela bagatela de R$399,90...

e o oscar vai para... a havaina comprada no mercado da encruzilhada, por 1/3 do valor nos endereços dos chiques e famosos!

segunda-feira, março 01, 2010

atualizações





encontrar um pinico de ágata, vermelho.

confeccionar um bodoque de madeira com borracha de fazer garrote.

comprar uma chaleira, daquelas que apitam quando a água ferveu.

encontrar uma máquina olivetti lettera 32, verde. daquelas com fita preta e vermelha.

um ferro de passar roupa, preto, de ferro, daqueles que esquentam a carvão. (nesse eu peguei hoje, no mercado da encruzilhada).

encontrar toalhinhas higiênicas daquelas de tecido para os "períodos do incômodo".

filtro para café de pano.

andar pelas ruas sem tanto temor de carros, assaltos e de pisar em bosta de cachorro.

acreditar que o bem vai vencer no final.