terça-feira, maio 08, 2007

ímpeto de tornar-se ave migratória

sempre fui lagarta de fundo amor a meu casulo; sempre fui ave de raiz, não ave migratória e nômade. meu chão, minha luz, minha casa, meus cheiros e meus abraços conhecidos são minha raiz dileta e fundamental. nos arrecifes onde nasci, sempre me imaginei estabelecida, por amor. de naturezas várias. o útero de terra e pasto, o útero materno e o entorno familiar. mas até alguém assim disposto a ver sua terra brotando e ser parte da semeadura vê-se expulso de onde construiu ninho, quando o que mais ronda é a sombra imensa de aves predadoras e sem nenhum temor de risco nas investidas.
pobre cidade dos arrecifes e dos portos, te restam as portas de saída aos que tenham a chance de escapar incólumes a ruas de sujeira, buzinas, engarrafamentos e pobreza de toda sorte. além dos alagamentos, de lama e sangue. ser sobreviventes miseráveis talvez seja o único orgulho - murcho, torto e desesperançado - resultante do slogan tão publicitariamente bem-sucedido, de ser nordestino, ou pernambucano. eu mesma, lagarta-ave-gente, prefiro a nostalgia, a saudade e as memórias afetivas que o clima de medo, tensão e o cansaço de horas em que se morre, literalmente, mesmo sem levar-se uma bala, mas a cada hora de tensão e tortura e desperdício, no trânsito, nas ruas lotadas, nas filas de bancos, nos ônibus e nos semáforos de uma guerra civil.

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