a lua estava quebrada, ontem à noite.
e ninguém houvera percebido, até o menino Lelo me pegar pela mão e ir à varanda. olhar o céu. quem estava avisando era o grilo, que não parava de gritar na jardineira da varanda.
meu irmão, o pai de Lelo, tem um grilo urbano na jardineira da varanda do quinto andar: um luxo de simplicidade.
saía chuva fininha, escondida, do meu olho. porque a lua estava quebrada. só o menino Lelo viu.
quem vai consertar a lua, perguntava Lelo?
o homem vai pular do prédio mais alto e botar cola na lua?
Lelo quer que eu fique bem velhinha, com os cabelos brancos, sem nenhuma outra cor. e que o passarinho preto continue morando nas minhas costas, e meu umbigo seja uma espécie de orelha, adornada de brinco.
Lelo responde muito "sim".
Lelo me convidou pra soprar as nuvens com muita força e acordar a lua, pra dizer a ela que espere o conserto. e dissemos boa noite à lua, que nos sorriu, mesmo partida e de boca banguela. a lua choveu mais um pouco no meu olho. Lelo lambeu um sal dessa água e me deu um pedacinho da orelha dele preu comer, pra virar um sorriso.
Lelo é um sábio de quase três anos de idade. e ele é muito amigo da lua, e de uma tia que não cresceu, engoliu um passarinho que mora nas costas dela e chove pelos olhos, porque desaprendeu a sair do caramujo-labirinto. Lelo ficará sentado de mãos dadas com a tia, brincando com um sabonete roxo, que é vermelho, mas também vira branco, como serão os cabelos da tia, daqui a uns bons anos.
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