terça-feira, agosto 21, 2007

pílulas

às vezes preciso arrotar minha alma esgasgada no meu pré-intestino...

quando eu aprender o suficiente da mudez para ser eloqüente, estarei em paz.


eu sou desbocada por opção retórica

o avô: é uma aliança, uma remissão, algo que acompanha, um talismã, um amuleto.como um beijo materializado, nos acompanhandoe velando por nós...

um imenso silêncio, como amálgama de sons vários que remetem todos a uma mesma dor, que é ela mesma fruto de uma incapacidade terceira...

e a lagarta, nesta temporada, permanecerá no casulo. rebelde ao suposto curso natural não sairá a borboletear, porque recebeu uma visita inesperada e inoportuna...

querido maestro, diz a lagarta ao ampulheto, certos sacrifícios não valem o abandono do casulo; certos outros não valem as asas da borboleta. e as vezes, no meio-termo, só resta a queda livre, o abraço do ar a asas inertes.

convite da lua, cheia, à lagarta (quando esta voltava pra casa, e espiava a lua, em seu percurso de subida ao céu): "vamos a uma festa, lagarta! é à fantasia!" "e vais de quê, ô, lua?" "de hóstia consagrada, não vês? só que pus açúcar, não creio que o corpo do cristo fosse ser assim desprovido de gosto..." (quem acusaria a lua de herege?). a lagarta voltou pro casulo, pois tinha compromisso...

... mas encontrou no caminho um pirilampo. e concluiu que seria a lua, agora, sua particular estrela de belém.

escritos em desordem talvez apenas estejam obedecendo a uma outra ordem, subjacente, mais orgânica...

essa estória faz já um pouco ido...

o pai deu de registrar as brincadeiras de conversa com o menino mais novo, patrimônio imaterial e inestimável (tanto o menino, quanto a conversa registrada).e vinha-se, entre tantas, assim:
pai: - tu gosta de brincar com o papai?
menino: - eu e tu, né?

pai: - tu gosta de jaca?
menino: - gosta...
pai: - mole ou dura?
menino: - molinha...
pai: - quer brincar de quê?
menino: - jaca é o quê, hein?
pai: - prestenção...
menino (cantando e pulando): - ei, carnaval, o carnaval começa no galo da madrugada!!!

essa estória faz já um pouco ido...

o pai deu de registrar as brincadeiras de conversa com o menino mais novo, patrimônio imaterial e inestimável (tanto o menino, quanto a conversa registrada).e vinha-se, entre tantas, assim:

pai: - tu gosta de brincar com o papai?

menino: - eu e tu, né?



pai: - tu gosta de jaca?

menino: - gosta...

pai: - mole ou dura?

menino: - molinha...

pai: - quer brincar de quê?

menino: - jaca é o quê, hein?

pai: - prestenção...

menino (cantando e pulando): - ei, carnaval, o carnaval começa no galo da madrugada!!!

sábado, agosto 04, 2007

da série "sabedorias de conforto"

a lua estava quebrada, ontem à noite.
e ninguém houvera percebido, até o menino Lelo me pegar pela mão e ir à varanda. olhar o céu. quem estava avisando era o grilo, que não parava de gritar na jardineira da varanda.
meu irmão, o pai de Lelo, tem um grilo urbano na jardineira da varanda do quinto andar: um luxo de simplicidade.
saía chuva fininha, escondida, do meu olho. porque a lua estava quebrada. só o menino Lelo viu.
quem vai consertar a lua, perguntava Lelo?
o homem vai pular do prédio mais alto e botar cola na lua?
Lelo quer que eu fique bem velhinha, com os cabelos brancos, sem nenhuma outra cor. e que o passarinho preto continue morando nas minhas costas, e meu umbigo seja uma espécie de orelha, adornada de brinco.
Lelo responde muito "sim".
Lelo me convidou pra soprar as nuvens com muita força e acordar a lua, pra dizer a ela que espere o conserto. e dissemos boa noite à lua, que nos sorriu, mesmo partida e de boca banguela. a lua choveu mais um pouco no meu olho. Lelo lambeu um sal dessa água e me deu um pedacinho da orelha dele preu comer, pra virar um sorriso.
Lelo é um sábio de quase três anos de idade. e ele é muito amigo da lua, e de uma tia que não cresceu, engoliu um passarinho que mora nas costas dela e chove pelos olhos, porque desaprendeu a sair do caramujo-labirinto. Lelo ficará sentado de mãos dadas com a tia, brincando com um sabonete roxo, que é vermelho, mas também vira branco, como serão os cabelos da tia, daqui a uns bons anos.

da série "cartas em garrafas"

um pedido de alento.
o que se espera numa garrafa é pretexto pra heroísmo? relato de abandono, desvio, esquecimento, perdição. e pedido de socorro.
eu quero apenas reencontrar a palavra que me dirigia à doninha.
eu quero o alento do sono de minha gata, quando deita entregue e desfalecida no meu colo.
às vezes, tenho que segurar o rostinho dela com os dedos, porque ela escorrega a cabecinha, na pequena morte de um sono tão fundo: confiança.
eu quero filmar esse acontecido e exibir à doninha: vem comigo reaprender a língua de silêncios cúmplices que nos atava?
um convite.

sexta-feira, agosto 03, 2007

da série: minotáuricas

ganhei uma casa de caramujo, entrei pra ver como era o presente por dentro. acho que me perdi e não acho mais a saída...

quarta-feira, agosto 01, 2007

perseguição do vento

A perseguição do vento, eis eu.
O que sou e faço.
Sinto.
É curioso como permaneço a amar-te,
mesmo quando não te amo.
Reconheci logo tua voz. Volta de viagem, tempo da saudade. Não nos juntamos, tampouco nos apartamos. Sina.
Disseste: sabes quem é?
Eu, óbvio, esperava já antes de ouvir-te. E mais: queria só ouvir a tua voz.
E disseste: sou eu, bom dia.
Eu súbito intimidada; passei a ter medo, como antes. A minha voz tremia, vez em quando e de repente. E com o tremor, novo de repente, ela (a voz minha) voltava a encontrar a pronúncia de nosso particular dialeto. Eu sabia que ainda me farias busca, soube-o desde desde. Somos perseguição do vento. Eu não, sozinha. Nós duas. De um livre liberto que é o amor que nos liga, nos ata.
Mas existe acaso de sabe-se lá que natureza: somos um quase-lá-sempre. E dei de nos fazer existir em escritas. Jeito de manter-nos mais quente, em mim.
E depois disseste de quem agora sempre vês: família, a minha.
Eu falei trivial. Por antes de tudo que me saía em som, todavia, o que eu significava era: como dantes, que ainda te amo, que nunca poderia deixar de amar, que te amaria até sempre.
Eu, o melhor livro. Mas aquele que te fica apenas em cabeceira, na lembrança esporádica - de cor, de coração – que te brisa o ar, te colore de águas e rio, mas no qual não te fazes lar.

(isso foi escrito nos idos de 2004)