o ouriço é uma espécie espinhosa, aparentemente inofensiva, mas que, quando em perigo iminente, eriça todo o seu corpo espinhoso como defesa. quando eu nasci, não sei por qual confluência de astros, ou escrotice do tempo (que eu batizei de Ampulheto e é dEUS), me foi dado escorregar de entre as pernas da minha genitora numa hora em que jardins secretos no universo inteiro estavam sendo assaltados, ameaçados de invasão e destruição, pela desimaginação completa. aí, resolvi brincar de inventar palavras, desde muito criança, e um dia inventei que o telhado era perto, e o céu era chão possível e eu podia cair e cair e cair até o chão me acolher. quando caí, não era assim, a fantasia se distraiu no meio da queda, e minha boca aberta na queda engoliu um ouriço que passava fugindo de um ataque predador. ele mora no meu estômago, e foi criado em mim: versão crua de verdade.
e isso de enfrentar leveza de morrer me é fácil, difícil é viver leve quando se fala outro idioma, um dialeto próprio.
por exemplo: quando falo de amor é, sem sustos, no sobressalto do se for construindo, enraizando, pulando corda de mãos dadas. eu sou um bichinho quase inofensivo, porque a minha raiva aqui dentro é muito grande, mas eu aprendi a arrotar meu estômago engasgado, só o ouriço me fura, de dentro. eu não ateio fogo em ninguém.
quase sempre, tudo de que preciso é um silêncio, um abraço longo.
o que é muito ruim são as intermitências do que dói. eu sou curada a cada volta do latejamento.
por isso o sexo me é uma coisa bastante particular. um dia, quem sabe, talvez, entendas. não é nem que eu seja obscura, é que meus desvãos são a parte maior de mim, buraco fundo, sem luz.
e sempre parece que quanto mais explico, mais metaforizo.
sou, então, opacidade e (in)lucidez?
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