sábado, janeiro 24, 2009
estória de passarins
hoje acordei com a visita de um primo passarim. era um vira-lata da estirpe dos de asas, um reles papa-capim, um dos plebeus voantes de que mais gosto. essa ausência de nobreza lhe dá um sentido sobretudo de levezas. ele me adentrou pela varanda, veio dizer-me de coisas do tempo de eu menina. lembrei-me de um aniversário me feito pela mãe. ela é mesmo intérprete fluente de criança. ela me fez de presente um bolo imenso, que de longe tinha certos ares de... vulcão. era um formato atípico para bolos, mas minha mãe sempre gostava de inventar novidades. a minha roupa nova de parabéns era amarelo canário, tinha umas caixinhas com bombons que lembravam ninhos. era mesmo um aniversário de passarinha. mas o mais melhor veio na agonia da hora de cantar parabéns. o bolo ficara na cozinha, guardado, esperando a hora de entrar em cena. mas ninguém se deu conta do porquê. é que havia um convidado especial. o bolo tinha uma fita azul em cima, cantaram-me um parabéns meio afobado, apressado. aí, sopra a velinha e puxa a fita. sai voando um canário azul, maravilhante, de dentro do meu bolo. minha mãe me deslumbrou por dias seguidos com esse passarim voado de bolo, pareceu coisa de mágico. e o canarinho viveu e deu nascença a uma dinastia canária em meu lar. eles viviam num viveiro enorme e mesmo quando eu os soltava, eles voavam e voltavam pro viveiro. aprendi de prática a criar-me passarim solto.
terça-feira, janeiro 20, 2009
domingo, janeiro 18, 2009
A Breve Fábula da Pulga
Parasita dos parasitas, xingam-te aos dias. Asco e nojo, imundície, ausência de higiene até dos donos de teus “donos”, ou hospedeiros, mas bem politicamente correto. E por quê? Por sugares quem dos homens supõe-se melhor amigo. Mas parasitarias o cão, ou o próprio dele dono? Se é o pobre cão afabulário ser, apenas o zé que do lado sempre permanece, o rabo elétrico de vida, o que não contesta, tu o atacas, mas para dar medida de fraqueza do dono.
[Como nem de um melhor amigo se sabe cuidar? É só o que o teu cãozinho te pede, um pouco de comida (ração industrializada, que já vem balanceada, alta tecnologia nutricional), um pouco de afago, e um eventual ritual higiênico de banho. Para que tu, o dono, possas gozar do privilégio de não prescindir de teu cão, mesmo nos aposentos mais privados do lar.]
Mas, voltando a ti. E não adianta, nem mesmo, que algum prazer queiras dar àquele macio pêlo, com a coceicinha prazerosa. És do mundo sub, do mundo i, do que deve ser exterminado, como prova de assepsia. És inimigo número um da sociedade capitalista organizada em mercados globais, e existirás sempre, sem o extermínio definitivo, não pelo poder de regeneração da tua natureza, mas como alimento ao nicho de mercado que se ocupa em sempre descobrir novas e (in)eficazes armas de combate à praga-que-és-pulga.
O sonho teu, então, é: engolir a própria língua, a sensação é de fracasso, incompetência total. Quando se é uma pulga que não encontra endereço seguro, espaço exilado interno e externo, único falante de uma língua muda e morta. Tudo em teias de aranha e mofo por dentro. Em verdade, nem muda o cenário, só tua auto-comiseração travestida em orgulho. Moça esnobe, aristocrata dos becos, descontente se alojada em “hotéis” sem pedigree. O único órgão que pulsa é a cabeça, acompanhada por muita dor, para que a pulga saiba-se ser inferior na hierarquia viva universal.
E nem adianta alegar envolvimento emocional, ou talvez impossibilidade de vivência apartada de tua moradia. Em resumo, não te apaixones por aquele que julgam ser tua vítima, serás sempre algoz!
Então: Olha para trás, pulguinha. Que abrigo construíste; como é a tua morada? Lamacenta toca, aparentemente plástica e higiênica, mas cheia de bolor a cada canto não observado. Pulguinha, te deixaste convencer da sina parasita, para do ego fugir. Sofreste a pena maior, de pulga te foste humanizando, criaste mãos, dedos, olhos, nariz e boca. E o teu sexo equivocado. Esse, sim, o mais irônico presente dos teus deuses. Não há como negar o material de que foste feita, origem é bagagem da qual ninguém se pode desvencilhar, a não ser pela renúncia à consciência. A não ser que aprendas a, todas as noites, seguindo rígida disciplina, sonhar e engolir a própria língua.
MORAL DA HISTÓRIA: Não adianta a uma pulga querer ludibriar sua natureza.
[Como nem de um melhor amigo se sabe cuidar? É só o que o teu cãozinho te pede, um pouco de comida (ração industrializada, que já vem balanceada, alta tecnologia nutricional), um pouco de afago, e um eventual ritual higiênico de banho. Para que tu, o dono, possas gozar do privilégio de não prescindir de teu cão, mesmo nos aposentos mais privados do lar.]
Mas, voltando a ti. E não adianta, nem mesmo, que algum prazer queiras dar àquele macio pêlo, com a coceicinha prazerosa. És do mundo sub, do mundo i, do que deve ser exterminado, como prova de assepsia. És inimigo número um da sociedade capitalista organizada em mercados globais, e existirás sempre, sem o extermínio definitivo, não pelo poder de regeneração da tua natureza, mas como alimento ao nicho de mercado que se ocupa em sempre descobrir novas e (in)eficazes armas de combate à praga-que-és-pulga.
O sonho teu, então, é: engolir a própria língua, a sensação é de fracasso, incompetência total. Quando se é uma pulga que não encontra endereço seguro, espaço exilado interno e externo, único falante de uma língua muda e morta. Tudo em teias de aranha e mofo por dentro. Em verdade, nem muda o cenário, só tua auto-comiseração travestida em orgulho. Moça esnobe, aristocrata dos becos, descontente se alojada em “hotéis” sem pedigree. O único órgão que pulsa é a cabeça, acompanhada por muita dor, para que a pulga saiba-se ser inferior na hierarquia viva universal.
E nem adianta alegar envolvimento emocional, ou talvez impossibilidade de vivência apartada de tua moradia. Em resumo, não te apaixones por aquele que julgam ser tua vítima, serás sempre algoz!
Então: Olha para trás, pulguinha. Que abrigo construíste; como é a tua morada? Lamacenta toca, aparentemente plástica e higiênica, mas cheia de bolor a cada canto não observado. Pulguinha, te deixaste convencer da sina parasita, para do ego fugir. Sofreste a pena maior, de pulga te foste humanizando, criaste mãos, dedos, olhos, nariz e boca. E o teu sexo equivocado. Esse, sim, o mais irônico presente dos teus deuses. Não há como negar o material de que foste feita, origem é bagagem da qual ninguém se pode desvencilhar, a não ser pela renúncia à consciência. A não ser que aprendas a, todas as noites, seguindo rígida disciplina, sonhar e engolir a própria língua.
MORAL DA HISTÓRIA: Não adianta a uma pulga querer ludibriar sua natureza.
quinta-feira, janeiro 15, 2009
historinha nem tão singela assim
o ouriço é uma espécie espinhosa, aparentemente inofensiva, mas que, quando em perigo iminente, eriça todo o seu corpo espinhoso como defesa. quando eu nasci, não sei por qual confluência de astros, ou escrotice do tempo (que eu batizei de Ampulheto e é dEUS), me foi dado escorregar de entre as pernas da minha genitora numa hora em que jardins secretos no universo inteiro estavam sendo assaltados, ameaçados de invasão e destruição, pela desimaginação completa. aí, resolvi brincar de inventar palavras, desde muito criança, e um dia inventei que o telhado era perto, e o céu era chão possível e eu podia cair e cair e cair até o chão me acolher. quando caí, não era assim, a fantasia se distraiu no meio da queda, e minha boca aberta na queda engoliu um ouriço que passava fugindo de um ataque predador. ele mora no meu estômago, e foi criado em mim: versão crua de verdade.
e isso de enfrentar leveza de morrer me é fácil, difícil é viver leve quando se fala outro idioma, um dialeto próprio.
por exemplo: quando falo de amor é, sem sustos, no sobressalto do se for construindo, enraizando, pulando corda de mãos dadas. eu sou um bichinho quase inofensivo, porque a minha raiva aqui dentro é muito grande, mas eu aprendi a arrotar meu estômago engasgado, só o ouriço me fura, de dentro. eu não ateio fogo em ninguém.
quase sempre, tudo de que preciso é um silêncio, um abraço longo.
o que é muito ruim são as intermitências do que dói. eu sou curada a cada volta do latejamento.
por isso o sexo me é uma coisa bastante particular. um dia, quem sabe, talvez, entendas. não é nem que eu seja obscura, é que meus desvãos são a parte maior de mim, buraco fundo, sem luz.
e sempre parece que quanto mais explico, mais metaforizo.
sou, então, opacidade e (in)lucidez?
e isso de enfrentar leveza de morrer me é fácil, difícil é viver leve quando se fala outro idioma, um dialeto próprio.
por exemplo: quando falo de amor é, sem sustos, no sobressalto do se for construindo, enraizando, pulando corda de mãos dadas. eu sou um bichinho quase inofensivo, porque a minha raiva aqui dentro é muito grande, mas eu aprendi a arrotar meu estômago engasgado, só o ouriço me fura, de dentro. eu não ateio fogo em ninguém.
quase sempre, tudo de que preciso é um silêncio, um abraço longo.
o que é muito ruim são as intermitências do que dói. eu sou curada a cada volta do latejamento.
por isso o sexo me é uma coisa bastante particular. um dia, quem sabe, talvez, entendas. não é nem que eu seja obscura, é que meus desvãos são a parte maior de mim, buraco fundo, sem luz.
e sempre parece que quanto mais explico, mais metaforizo.
sou, então, opacidade e (in)lucidez?
sábado, janeiro 03, 2009
mais uma volta
... no calendário dos 365 dias, cada vez num tempo mais relativo, mais corredor. os dias com menos de 24h. mas foi uma chegada tranqüila, sem alarde, como a mim agrada. poucos e queridos, família, "the other half", amigos queridos e um sono. sem roupas novas e apertadas, fingimentos de finesse (que não tenho e de que não gosto, nesse sentido). novo som, novos ventos.
sem alarde. serenidade e leveza, tudo que sempre reitero: pedido.
sem alarde. serenidade e leveza, tudo que sempre reitero: pedido.
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