quarta-feira, maio 19, 2010

da série: dicionário de termos literários



sabe a definição de poesia? as vezes é tão difícil definir algo, ao mesmo tempo tão simples e óbvio, que todo mundo sabe o que é, mas que teima em não assentar nas palavras de modo a se traduzir com objetiva e precisa leveza...
mas basta perguntar ao mocinho de óculos e ar intelectual, do alto dos seus nove anos, que ele criou precisa e ligeira definição, assim mesmo, de supetão:
"é um texto que libera emoções".
e tenho dito, assinando embaixo das palavras dele, Raminho.


imagem em: http://marisamelo.files.wordpress.com/2010/01/poesia_pura.jpg

no bico da cegonha




com quase dez meses de útero e tamanho "normal" de recém nascida, a menina de 47 cm veio de parto normal. diz a mãe que era um rebento tão lindo, cabeludinha e de nariz muito arrebitado.
muito teve que se atrever na vida, para dar conta do 1m e 3 cm que cresceu, até a vida adulta, conservando bem guardadinha e atuante a mesma criança que brinca com nina, seu alter ego felino e preto, no colo enquanto escreve...
e no mesmo dia em que nasceu o menino, só que 1ano e três meses depois... nascia o presente mais especial que ela receberia: o gêmeo.
um dia de festa dupla.

sexta-feira, maio 14, 2010

mês de apurar o sentido do tempo




celebração, que podem ser até coloridos fogos de artifício, de preferência sem estampidos, pois sou adepta dos sons em baixo volume, sempre. eduquem-se os tímpanos, respeite-se o alheio...
e assim faz-se o mês de maio, em mim, duplamente sempre. mês do dia de nascer, mês do dia de reiniciar uma contagem no calendário pessoal, afinal, meu novo ano começa no dia em que minha mãe me mandou pro mundo, preu sair do confortável útero... já passando dos nove meses!
e chegam boas novas outras, neste maio, como presságio de o quanto valem tenacidade, perseverança e, sobretudo, meu segundo nome: paciência.
ufa, eis que nasceu este novo "rebento" esperado 1 ano e meio depois. demorou ainda mais que eu pra chegar...
mas a relatividade de ampulheto me ensina, após daqui a 10 ou 20 ou 30 anos, que terão sido os 15 meses dessa espera? o que fica é o aprendido.


Foto: http://fotos.sapo.pt/7FzO3zByumMfF9Z8SkLq

sexta-feira, maio 07, 2010

parece até mais do mesmo




o quanto já escrevi por aqui sobre felinos, nem sei... mas acho que nunca principiei a história da minha funda relação com os bichos começada pelos cães: primeiro convívio e cuidado de estimação. talvez tenha mencionado arisco (o nome mais despropositado pra natureza de uma criatura; era ele um boxer tão afável que mais deveria se chamar mingau), companheiro meu embaixo da mesa de jantar. mas essa é história outra, a que penso já ter aludido neste sítio.
só que dos muitos cães, amores verdadeiros, sem dúvida, a vida me converteu: pelo encontro com zureta e nina. a proximidade e a coabitação com os gatos é ímpar, peculiar e sutil, como só a elegância e a dignidade da espécie poderiam proporcionar.
a fidelidade não submissa; o amor que ensina limites, medidas, respeito à individualidade e ao tempo de cada um; a independência que não conhece egoismo; o carinho na exata medida; a solidariedade e a paciência de dormir todas as noites ao pé da porta do quarto, para miar pontualmente e despertar para a acolhida matinal... não só aquele que o alimenta, mas aquele com quem se travou O laço. assim é o gato.
os tolos e ignorantes repetem chavões: que é interesseiro e apega-se apenas à casa...
minhas gatas me buscam por saudade; me seguem pela casa apenas para estar junto de mim, sem babar, sem latir, sem se submeter, apenas pelo zelo da companhia, pelo piscar de olhinhos reluzentes de uma quase coruja a dizer que amam.

apegam-se à casa apenas, não é? por que, então, quando viajo - apesar de ficarem em casa e terem quem as alimente e dê água - elas perdem pelos e ficam me buscando pela residência toda?

o cão é que é fiel ao dono, não é? e quem consegue afagar um gato que não conhece e que vem correndo e se estabanando, virando barriga pra cima? zureta e nina são fiéis à "dona" suposta delas (elas que me possuem, na verdade)... desafio os que cheguem e elas permitam intimidades e toques sem antes muito exame, uma aquiescência imensa minha e o veredito (delas) de que a pessoa merece essa concessão. já eu, posso tocá-las, mesmo que elas me saibam dizer sutilmente (com um levíssimo mover de coluna) que não querem o toque naquela hora. afinal, nós às vezes também não queremos ser tocados em um exato momento...

a cada dia descubro algo novo e diferente pelo olhar delas. a curiosidade e a audição inacreditável; o equilíbrio e a absurda elegância; a precisão no "pulo do gato"; a habilidade do silêncio eloquente; a maciez do pelo e o cheiro bom; a higiene e o cuidado de si (inclusive, zelando pelos dejetos enterrados)...

uma vida inteira, aliás sete, cercada de felinos é o que preciso para a cada dia converter-me mais em uma deles. amém.

fotografia: Raíssa Moraes

domingo, maio 02, 2010

canteiro laborioso




vontade de fazer lugar
franciscano sítio
onde espraiar a alma
contida pelo canto
do corpo cativeiro

um cultivo de subsistência
que se assenta
em comedidas abundâncias

um jardim sem distâncias
em que conversam rosas e jasmins
e não disputam
com vulgares borboletas brancas
nem belezas, nem olores
nem visitantes
passarinhos

um canteiro de nonsenses
e um cultivo de abandonos
pra que se atinjam
os condensados sonos
e os sonhos encravados

até nas insuspeitas gentes
que pelos desvãos dali passam
sem saber que lá se perdem
porque adentram espaço
em que lei não é regra
e só tudo o que impera
é a voz do silente