sexta-feira, dezembro 26, 2008

carrossel

dois érres, dois ésses, uma roda que sobe e desce, um fundo musical de caixinha de música, com bailarina rodopiante, cavalinhos adestrados em madeira de lei, que sobem e descem cada um em sua vez, círculos círculos círculos, e sorrisos, num parque de diversões.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

fragmentos de diálogos

hoje foi dia de ir a aldeia, uma casa de que muito gosto. já cenário de muitos ocorreres, bem diversos, pra mim. o melhor de tudo, lá: plantas, frutas, animais e, sobretudo, sobrinhos! Rafa e Lelo, como sempre inspirados e conversantes sagazes e precisos. brincávamos com as ratas (mangá e hermione, nomeadas) de fazê-las nadar (como lontras, dizia Rafa). depois Lelo, muito aperreado, foi o defensor das duas, que ele via ameaçadas pelas duas gatinhas (Coca e Nina). Rafa disse, "é muito bom uma gatinha ter uma irmã, porque elas brincam de lutinha..." ou seja, lutinha, pra ficar claro que é brincadeira, ludismo, inofensa.
e quando voltávamos do sol, eu reclamei calor e ele mais uma vez: "titia, vamos tomar alguma coisa pra tirar esse calor!" além de gentil anfitrião, velando-me.
e Lelo, ao me ouvir ensinando-lhes (a ele e a Rafa) a ciência de brincar com e cuidar de gatinhos (na qual sou bastante versada, por amor puro), me saiu com uma pérola vocabular. eu dizia a eles que os dois melhores brinquedos para um gatinho são uma fitinha ou barbante e uma bolinha de papel. Levanta-se Lelo e sai ligeiro, com essa: "eu sei o que é suficiente pra isso!" e me volta com um pedaço de jornal pra ser amassado como bolinha...
depois, já perto do meio do lusco-fusco (aquela hora da tarde querer ir-se), sentenciou Lelo: "tá chovendo fumaça!" (a propósito de um rastro de fumaça no céu, causada nem sei porque...).
e eu voltei pra casa satisfeita, presenteada pela risadas e lembranças dos meus dois guris.
um feliz natal, eu diria.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

sobre semelhanças e laços

eu tenho uma coisa que eu chamei de AVC, é assim: toda vez me explicam que AVC é coisa ruim que se tem e se fica com seqüelas, e o que eu tenho é mais pra uma espécie de afasia. mas eu resolvi chamar de AVC e pronto. e eu tambem explico: costumo trocar palavras. esqueço, no calor da hora de dizer alguma importante declaração, e me vem uma outra súbita sorrateira palavra (aparentemente nada a ver) no lugar da devida. por exemplo?
lá vai...
quando era hora de nascer meu segundo sobrinho, Rafael, o primeiro filho do meu irmão mais novo (ele próprio, Roberto, também uma espécie de filho meu; então eu era meio tia meio avó), Beto - como o chamo - me telefona primeiro que a todos e diz: - Galega, Rafa vai nascer! eu, prontamente, perguntei: - Em que elevador???!!! - Elevador?! meu irmão se espanta... - Espero que dê tempo de chegar à sala de parto do hospital! Rsrsrs - Vai ser no Esperança! Mais uma manifestação do meu AVC.
Hoje uma minha avó, de adoção e não de sangue, me relatava a chegada de viagem de duas filhas dela, cujo "navio enorme postergou postergou mas atracou!". traduzindo: o AVIÃO enorme atrasou atrasou, mas chegou!
laços de afetos eletivos, AVCs genéticos de uma idade muito avançada que guardo em mim, como já disse disso a tantos amigos, inclusive a uma já muito querida pessoa cronologicamente há pouco entrada em meu círculo vital (cujo nome não declino, por certas razões, mas que se reconhecerá, creio), quando ela me diz que devia ter trinta anos a menos, pra estar mais próxima da minha idade "oficial-aparente". eu contesto.

terça-feira, dezembro 23, 2008

brincadeiras

são muitas as que a gente inventa. melhores amigas, as quatro. desde correr atrás de bolinhas de papel a perseguir fitinhas; inventar palavras e explodir em risos...

uma nova personagem

que me povoa o juízo...
e me prova que sou mais baco
do que me sei,
quando me racionalizo

hoje foi dia de acordar latente
e latejando

arrumações de ciclo que finda
pra tirar a poeira
acumulada na velocidade
de um atropelamento
do tempo

eu escrevo em soluços, detesto formigas, adoro dar banho nas minhas gatas e vê-las assanhadas como um ouriço, de olhinhos límpidos e piscantes: eu te amo, elas me dizem assim. e se lambem, pra se limparem do banho que nelas dei. cada bicho sabe de sua higiene.
eu tenho saudade da minha personagem, já tão recente. é que ela não pôde conter o reconhecimento, tombou e, logo após o susto, susteve a corrente natural que nos magnetizava.
eu espero as promessas, amavios e encantos da minha personagem...

segunda-feira, dezembro 22, 2008

uma assim reviravolta

acabo de ouvir da rapidez dos meus dedos, em metáfora bifurcante: sobre o teclado, após o pensamento e por entre o corpo, dedos hábeis e velozes. seriam mesmo, e o quanto?

o que sei é que o pensar é caoticamente veloz. suponho o caos, porque me precipita em desvelos e desdobramentos que me fazem maior a espera, por já pressentir os desenlaces. minha rota de exaustão é, pois, mais vertiginosa.

quero dizer que estava eu quieta, algo em mim moveu o que me causou a resposta de um também deslocamento. o resultado é que me desencaixei e, agora, tenho que negociar o reparo de mim com o ampulheto. e ele é irônico todo sempre, basta ousarmos um pequeno assenhorear-se dos atos e esboçarmos leve insubordinação: caput! ele nos tira o degrau seguinte, para multiplicá-lo numa seqüência imensa de outros degraus, pelos quais nos fará tombar, cambaleantes e patéticos.

ainda me agravam os remorsos pelo joelho enfermo.

domingo, dezembro 21, 2008

três coisas que eu odeio (e são muitas três mais)

a lista original é:
1. soluço
2. cisco no olho
3. cócegas

quanto aos dois primeiros itens: sou capaz de bater os recordes de permanência com soluço (3 dias inteiros direto, dorme e acorda soluçando, desde criança; às vezes, quase uma semana sem conseguir tirar o cílio de dentro do buraco negro onde ele se esconde, dentro do meu olho). preciso dizer mais?

acréscimo à lista:
ladainha, aquele problema que nunca se resolve e a pessoa vive relatando, reclamando, esmiuçando e pedindo sua escuta, sua sugestão para resolver, quando você sabe bem que nada mudará e dali a algumas semanas, ou dias, virá toda a ladainha novamente...

gente que dá ar pro sopro do outro, estimula-o, solicita-o até, depois, acovarda-se e faz movimento de recuo.

intimidade sob tortura. explico: seres que se auto-convertem em "nosso melhor amigo" sem nem se darem conta de que mal os conhecemos e não estamos nem um pouco interessados nesse estreitamente de campos vitais...

a lista é sempre passível de acréscimo.

sábado, dezembro 20, 2008

porque o ampulheto não respeita fita métrica...

...volto no que cronologicamente se diria um ano depois.

Goethe: "aqui, como aliás em toda parte, encontro sempre ao mesmo tempo o que procuro e aquilo de que fujo."

Osman Lins: "... dependemos de coisas que nos são alheias e que não podemos dominar."

Principiei um escrito assim (que é um diálogo recente):

Pergunto assim: tentemos abstrair as contingências - e parto (nem sendo eu analista do discurso) de coisas que me disseste (nem sei o quanto de consciente havia em ti), mas - voltando ao foco da minha pergunta, como vês o que nitidamente se dá entre nós? O sentimento, o enlace, uma urgência que impera pelo contato... Estamos no terreno do verbo, eu sei. Aqui na escrita, e na relação entre nós até agora - salvo os abraços.
Sinto o terreno arenoso do perigo, e me reconheço em chão no qual já estive antes. As palavras traem e, mais ainda, quando são canal que sustém a consumação de desejos. Temo um tanto, devo admitir, o desenlace deste meu escrito. Não por como, apaziguadamente, me vejo nesse processo. Para mim creio ser mais simples: tanto o enxergar, quanto a possibilidade concreta de constatar e dar passos ao concreto. Não quero, porém, assustar-te ou pôr velocidade inatural e antecipada ao teu tempo de reconhecimento e confronto.
Vejo muito tranqüilamente os diversos possíveis desenrolares... Um ponto pacífico é: se conduzida em serenidade e delicadeza, podemos atravessar o amadurecimento natural dessa fruta sem esmaecer-lhe viço e constância e sem, menos ainda, deixá-la morrer sem desfrutar sua madureza: ser alimento. Espero me fazer clara.
Proponho desvelarmos os interditos e fidelizarmo-nos aos sentidos. A natureza do imponderável aparente e do imperioso demanda inconteste respeito. Asfixiá-la me sói ser o pior rumo: apenas trilha de perdas. Por isso, admito, não me estou furtando ao que me cabe, pelo avesso: chamo a mim a responsabilidade do precipício. E estendo minha mão, para que a ela acorrentes a tua.