sexta-feira, fevereiro 23, 2007

íntimo

quando a um outro exato alguém é franqueada a sabedoria ainda mais fina que a nossa própria, de domínio e de percursos, de cheiros e toques e formas; quando este outro parece ainda mais eu no dizer calado do meu corpo. dos cabelos, a textura e o mergulho das mãos, superfície maestra do sentido tátil. da pele, o trajeto da língua, antevisto pelo olfato do nariz ávido e atento a cada molécula de odor, que faz da seda dessa teia tecido de cativeiro consentido e cúmplice.
por exemplo.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

pequenas lições botânicas

pode ser metáfora.
como uma planta de raiz muito funda e grossa, sequóia, baobá, que vive centenária...
mas pode também ser como roseira, cuja flor dura um dia, aparente fugacidade de cem anos em horas.
ciências emparelhadas no cuidar, que cada rosa se esvai, mas pra que venham os novos botões sempre e renovadamente, a roseira tem que ser podada.

sábado, fevereiro 10, 2007

perguntas

o que fazer quando o diálogo se fecha?
(aliás, quase nunca ele há de fato. "uma planta não enxerga a outra".)
como se faz a escolha pela parceria, na exata medida do equilíbrio? onde estariam as percepções das concessões de ambas as partes?
(o mais engraçado é não ser percebido.
e uma raiva supostamente calada vira lágrima
e parece não ser isso um despejo sobre o outro...)
melhor expressão que o sincero dizer-se? melhor expressão que o acordo no momento de anúncio da possível discórdia vindoura?
de que matéria é feito o seu amor? a receita inclui quanto de suas vontades contrariadas que viram raiva e lágrima?
de que matéria é feito o traçar dos seus planos?
de linha de rede de pescador? de rede de deitar e embalar sono? de rede de armadilha?
(um chão nem sempre é plano, quase nunca sólido. um chão é superfície das mais incertas e escorregadias.
eu prefiro o oco de nada sob os pés.)

silêncio

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

antevisões passadistas de período momesco

me deu uma nostalgia antecipada, nem bem chegaram os dias de carnaval. sempre fui foliã de fantasia, de menina que vira macaco, índio, bailarina, pierrot e até ouras idéias muito mais inventadas, improvisadas de disfarce. ia pra rua, olhava muito, gostava de tomar picolé e de tomar cerveja (já menina maiorzinha). gostava de ver os blocos, os caboclos de lança... quando pequena, tinha medo que se pelava da "a la ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro", hoje, "a la ursa" assalta mesmo, mata sem remorso. hoje "a la ursa" está em todos os sinais, é flanelinha, ou mesmo nem é, e amedronta. hoje, nem fantasia nem poesia. um caos que desanima, que esvai poesia da cidade e do carnaval. hoje, recife é toda uma saudade de quando era uma cidade, e não uma guerra civil mal disfarçada...